Finalmente chego ao terceiro elemento dessa quinzena: O documentário criado pela PBS sobre Maria Antonieta. Por mais que este estivesse agrupado com os outros dois filmes, é óbvio que sua atmosfera é completamente destoante dos demais. Seu caráter passa muito mais pelo informativo do que pelo entretenimento, importando-se mais com a qualidade do que é contado do que pela pompa apresentada.
Esse documentário foi preparado pela PBS (e você pode conferir muitas informações interessantes pelo site oficial: http://www.pbs.org/marieantoinette ). PBS ou Public Broadcasting Service é um canal aberto de caráter educativo-cultural nos Estados Unidos. Neste documentário vemos a atenção do diretor em lembrar-nos das multifacetas de Maria Antonieta, de como ela foi moldada de acordo com o interesse da época. O mais interessante desse documentário (além das falas de estudiosos) está no fato de terem usado um atriz para Maria Antonieta que, na verdade, não revela seu rosto diretamente! Talvez seja dificil encontrar alguém nos dias de hoje que traga consigo os traços tão reais da jovem ausburguesa, mas a escolha é de fato curiosa.
A narrativa começa de trás para frente aqui. Maria Antonieta, já em tribunal, responde como viúva do Rei da França. É posta como inocente no que se refere à situação do povo francês naquela época, ou seja, é impossível que tenha pronunciado a já batida frase "Se não têm pão, que comam brioches!". Ela era uma humana comum na pior das circunstâncias, nas vésperas de uma revolução popular.
Maria Antonieta era 15° filha de Maria Teresa. Era uma criança amável, que gostava de música e danças. Infelizmente já mostrava traços de leviandade, não conseguindo aprender nada além do que apreciava.
"She is more intelligent than is generally supposed, unfortunately, she has not been trained to concentrate in any way, nor I feel that it's well within her power to do so."
Maria Antonieta era vivaz e charmosa. Sua aptidão para a música encanta todos ao seu redor, mas o fato de ser Austríaca e incapaz de conquistar seu próprio marido torna-a alvo de críticas ferrenhas. A distância de Viena passa a causar-lhe saudade, a corte hostil afasta-a do calor que esperara receber. Não havia um momento sequer em que tivesse privacidade, toda a sua vida era como um espetáculo a ser admirado pelos outros e isso chocou-a enormemente.
Já rainha, Maria Antonieta decide por jogar-se na vida noturna. Raramente abria um livro e, ao contrário de seu marido, não costumava pensar muito sobre as coisas. Deleita-se com os jogos, festas, óperas e bailes. Um dos historiadores chega a dizer que ela era uma jovem com um "cartão de crédito ilimitado".
"What does my mother want? I'm terrified by being bored. I must have some distraction and I can find it only in christian amusements." (M. Antonieta)
Seu casamento não ia bem, 4 anos juntos e a consumação ainda não havia chegado. José II vem de Viena tratar do assunto que agora tornava-se questão de estado, afinal, toda a Paris comentava de sua situação, insinuando a presença de amantes em seus aposentos. Anos mais tarde, após o nascimento de seus filhos, Maria Antonieta passa a se refugiar no palácio que recebera de presente de seu marido: o Petit Trianon. Era uma mulher carinhosa, materna, preocupada com a educação dessas crianças. Passa a vestir roupas leves e brancas. O retorno à natureza estava na moda.
Em sua vida privada no petit Trianon, fora acusada de festas e orgias inimagináveis e, como mantinha-se isolada da corte, foi muito fácil que esses boatos logo se espalhassem por Versalhes e ruas de Paris. O povo começa a inquietar-se com sua figura e logo transforma-a na representação de todos os excessos de uma rainha. Panfletos são espalhados pela cidade com representações devastantes, mas a rainha apenas ignorou, acreditando que não seria nada demais.
Esse descuido fez que com não tivesse credibilidade nenhuma quando tentou desmentir seu envolvimento no caso do colar de diamantes. Os panfletos tornavam-se cada vez mais ameaçadores, exibindo imagens da rainha desnuda em seus jogos de luxúria. Diz-se que esta não fazia idéia de sua posição e quando se fez consciente, tratou de correr atrás de mudanças.
Diminuiu gastos, passou a se preocupar menos com seu próprio prazer. Passa a atender aos encontros do governo, mas sua inexperiência apenas agrava a situação. O poder real era seu por direito e disso ela tirava a certeza de que jamais deveria dividi-lo com alguem, quem diria com o terceiro estado. Sua recusa em aceitar a revolução e os direitos exigidos fez com que o povo acreditasse que essa mulher queria, na verdade, tomar o poder para si. O medo de terrem um mulher no poder, uma mulher estrangeira e vulgar como Maria Antonieta, fez com que as criticas e a resistencia de agravassem. Mas a rainha, tão orgulhosa, decide lutar contra essas atrocidades. Arranja um conselho secreto e reúne-se a fim de discutir questões do estado. Aprende a ler e escrever em códigos, tendo pela primeira vez que dedicar-se a algo com seriedade. Finalmente, Maria Antonieta passa a perceber que tipo de pessoa ela era realmente e se 'decepciona com o que encontra.
"Tribulation first makes you realize who you are"
Seu consolo neste momento foi Axel Fersen, quem se esforçava pelo bem da monarca. Era nele que encontrava forças para continuar a resistencia e logo planeja a fuga de sua família em direção a Viena. A fuga falha e são descobertos em uma pequena cidade próxim
à borda francesa. Agora prisioneira, volta-se exclusivamente para o cuidado dos filhos. Após a morte do marido e separação de seu filho mais novo, é levada aos tribunais e se mostra uma mulher extremamente inteligente nas respostas, assinalando uma evolução assustadora em sua personalidade. Não haviam provas de sua traição com relação ao estado e ela soube mascarar isso muito bem, mesmo que anos mais tarde fosse provado que houve de fato traição de sua parte. Permaneceu orgulhosa até o momento em que fora guilhotinada, morrendo definitivamente como uma rainha.
Essa maneira trágica de terminar sua jornada fez com que uma lenda crescece ao redor de seu nome, torna-se um mito por haver sido uma mulher frívola e se transformado de uma maneira rara para a maioria dos homens.
Em nada conhecemos a verdade, penso que tudo o que lemos e o que vemos nos passa a impressão de surrealidade. A história de Maria Antonieta é de longe a mais intrigante de toda a realeza, e ler seus relatos tem sido gratificante!