sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Maria Antonieta (Livros) - [Projetos A2] #1
Fazendo um pequeno resumo de meu projeto, pretendo analisar diferentes meios de comunicação que tratem da personagem histórica Maria Antonieta e comparar a reconstrução de sua imagem.
E, seguindo o calendário, tenho lido os livros propostos pelo plano de trabalho desde o dia 26 de Agosto.
O primeiro deles é "Maria Antonieta" de Stefan Zweig, escritor austríaco também responsável pelas biografias de Balzac, Dostoievski, Nietzsche, Tolstoi, entre outros. Chegou a morar no Brasil em 1940, encantando-se pela cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Com relação ao livro, nota-se a grande habilidade do autor de aproximar uma realidade distante tanto pelo tempo quanto pela geografia. Lendo este livro tive a certeza de sentir os ares da Áustria de Maria Teresa, as tapeçarias de Versalhes, o frescor do Petit-Triànon, os múrmurios parisienses e, acima de tudo, de testemunhar a tão exaltada "beleza Ausburguesa". Stefan Zweig aproxima-nos de tal maneira da personagem que é impossível não se apaixonar, não perdoar os erros de tão encantadora jovem! Somo ludibriados, assim como os tutores da princesa, por tanta graça e jovialidade. Permitimos que a pequena "Toinette" observe-nos com seus grandes olhos azuis, convencendo-nos de que está certa em faltar às lições enfadonhas demais para qualquer criança.
Stefan tem o cuidado de recriar a criança que já foi essa mulher, ressaltando através da exposição de cartas e trechos originais, o quão impolida (intelectualmente) Maria Antonieta fora. Fato claro após a leitura da carta de padre Vermond:
"Com seu rosto encantador, reúne todas as graças no aspecto (...) O seu caráter e seu coração são excelentes. (...) Tem mais inteligência do que se lhe atribuiu durante muito tempo. Infelizmente essa inteligência não foi habituada a nenhuma concentração até os doze anos. Um pouco de preguiça e muita leviandade têm-me tornado difícil a sua instrução. (...) Por fim, reparei que, só divertindo-a, é possível educá-la." (pg 14)
Daí surge o conceito mais repetido em sua obra a respeito da personalidade de Maria Antonieta. Stefan lembrar-nos-á, exaustivamente, deste desapego que tem por qualquer coisa que seja séria, exaustiva, que demande concentração ou sequer um minuto a mais de sua atenção. À Antonieta cabe apenas a diversão, o prazer, os luxos e leviandades.
Já no momento de partir para a França, a pequena Maria Antonieta não consegue manter à risca as etiquetas tão duramente treinadas. Vendo-se abandonada pelas únicas pessoas que conhecia naquela terra neutra (a corte austríaca), acaba por desabar em lágrimas sobre o colo de sua nova dama de honra. Era uma criança, afinal.
Em Versalhes a doce criança julga-se acima das etiquetas e, ignorando todas as prescrições, caminha livremente pelas salas sagradas:
"Estouvada por natureza, a pequena Maria Antonieta anda num turbilhão, saias ao vento, brincando com os irmãos mais novos do seu marido;" (pg 34)
Já no caso da amante do rei, Madame Du Barry, Maria Antonieta revela-se uma jovem, além de altamente orgulhosa, portadora de um espírito preocupado com sua honra. Atenta-se especialmente para o fato da referida dama não passar de uma >>prostituta<< e, com receio de ir contra suas próprias convicções, arranja o circo quase trágico para sua estadia.
Os anos prosseguem e de delfina passa a rainha. Mas nada além da coroa e da idade mudam. Seu espírito orgulhoso aflora. Agora tem em mãos não apenas o status de rainha da maior nação, mas todo o dinheiro que seu "parvo" marido fornecer. E é assim, sem limites para o luxo e ostentação, que sua personalidade leviana ganha mais força. Não é atoa que hoje muitos a chamam de "rainha da moda", com o ouro infinito dos cofres reais, é óbvio que não perderia a oportunidade de gastar o quanto fosse em seus figurinos exóticos e, não raramente, exagerados. Mantem, mesmo adulta, o péssimo hábito de ignorar aquilo que lhe parece enfadonho. Só quer saber das lúxurias e diversões da noite. Apaixona-se pelo baile de máscaras de Paris e, diante de falsas amizades que lhe surgem, desprende-se do ouro a favor de seus novos "amigos". Assim segue sua nova vida, deixando brechas para fortes calúnias e mexericos. Não se preocupa com os assuntos cabíveis a uma rainha, mas apenas com sua liberdade, apenas com sua diversão. E isso se reflete, principalmente, com a aquisição do Petit-Trianon, onde se isola do mundo real e só quer saber do que se passa dentre suas paredes. Não muda, na verdade. Permenece eternamente uma criança.
O auge de sua infantil ignorância é alcançado - talvez - no desenrolar do caso do colar de diamante. O desgosto pelo cardeal de Rohan leva-a a atitudes precipitadas, o que mais tarde trará consequências literalmente mortais. Move-se apenas pelo orgulho que precisa de reparação. Olvida-se da serenidade que sempre lhe faltou, dando gancho suficiente para a revolução que aí vem.
"Grande e feliz questão! - exclama um crítico familiar do Parlamento. - Um cardeal escroc, a rainha implicada numa falsificação! Que quantidade de lama no báculo e no ceptro! Que truno para as idéias de liberdade!" (Pag 179).
Mas ainda há que ler o resto deste livro. E assim que puder atualizo esta parte.
Em "As Pompas de uma rainha extravagante" de Jean Plaidy, temos uma aproximação diferente da personagem principal. Os romances já famosos desta escritora têm entre si a surpreendente capacidade de levar-nos a presenciar, de olhos abertos, cada passo do que se conta. Este livro não é diferente e, pondo-nos como expectadores próximos, convence-nos de que não há falhas ou controvérsias em sua narração.
Outro fato curioso dá-se nas referências da autora: usara do livro de Stefan Zweig para suas pesquisas. Assim, não é de se surpreender que encontremos semelhanças em sua narrativa. Mas esta mostra-se muito mais romântica, muito mais envolvente que o texto quase-didático de Zweig.
Ah! E claro, não nos esqueçamos que este livro ao lado é, na verdade, o último da trilogia "Revolução Francesa". Ainda não tive a oportunidade de ler os anteriores, mas bem conhecendo a história, não há aquela sensação de "falta de continuidade".
Voltando ao foco, temos nestas páginas uma visão bem mais humana de Maria Antonieta da França. A criança corre pelos jardins com sua criada e o cachorrinho Mops. É vivaz, alegre, sorridente. Cheia de encantos e gracejos para esbanjar. Pode até mesmo convencer a dura Maria Teresa de sua inocência, de que está certa em preferir a diversão às entediantes lições diárias. Conquistava os tutores com seu carisma e claro, a beleza praticamente divina. É vista por Vermond como preguiçosa para as coisas que não lhe interessam e incapaz de se concentrar por qualquer minuto que fosse, para não falar em como era mimada. Mas apesar disso tudo era, incontestavelmente, a jovem mais adorável que já conhecera.
Em Versalhes, sua curiosidade era grande. Perguntava tudo o que desejava, os olhos brilhantes com tudo o que via. Ainda jovem e sem opiniões bem estabelecidas, era facilmente ludibriada pelas irmãs do rei, "Les Mesdames". Encalhadas, mesquinhas e "intriguentas". Em contrapartida tinha Madame de Noailles (Madame Etiqueta) e sua mãe sempre tão preocupada para balancear as más influências.
No que diz respeito à Du Barry, seu desprezo traduz-se, na verdade, como uma transferência de responsabilidades. Ao invés de ver nesta vulgar mulher a personificação de tudo o que aprendera a aldrajar em seu reino católico, Maria Antonieta encontra nela tudo o que na verdade é incapaz de possuir: intimidade com seu marido, a passagem definitiva de menina para uma mulher. Daí nasce seu ódio feroz. De inveja.
Na forma de rainha, pouco se importava pelos assuntos reais. E seu marido, tão sem firmeza, não colaborava. Queria saber do Petit Trianon, de Magnólias, flores exóticas para seu jardim. Queria interpretar, divertir-se ignorando as prudências de uma figura tão chave da realeza. Mas neste livro vemos a existencia de uma proximidade muito maior de seu marido do que é visto nas descrições de Stefan. Aqui eles conversam e se vexam ao tocar no assunto de filhos. Não tinham intimidades ainda e Maria Antonieta é constantemente torturada com o desejo de ter filhos, de ser mãe. Ela brinca com outras crianças e sente-se profundamente envergonhada dessa "falha" em sua vida. Daí nasce grande parte de suas frustrações, as quais acabam levando-a à distração nas festas e bailes de máscara.
Mais uma vez, ainda tenho de terminar o livro. Assim que o fizer atualizo aqui e aviso em meu twitter (@Laz_hiral).
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