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"Walter Benedix Schönflies Benjamin (Berlim, 15 de julho de 1892 — Portbou, 27 de setembro de 1940) foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão.
Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi fortemente inspirado tanto por autores marxistas, como Georg Lukács e Bertolt Brecht, como pelo místico judaico Gerschom Scholem. Conhecedor profundo da língua e cultura francesas, traduziu para alemão importantes obras como Quadros Parisienses de Charles Baudelaire e Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust. O seu trabalho, combinando ideias aparentemente antagónicas do idealismo alemão, do materialismo dialético e do misticismo judaico, constitui um contributo original para a teoria estética. Entre as suas obras mais conhecidas, contam-se A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936), Teses Sobre o Conceito de História (1940) e a monumental e inacabada Paris, Capital do século XIX, enquanto A Tarefa do Tradutor constitui referência incontornável dos estudos literários." Wikipédia
A Obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica
Introdução
Marx, em suas análises do modo de produção capitalista, foi capaz de prever a exploração crescente do proletariado e a criação de condições para sua própria supressão. "Os conceitos seguintes, novos na teoria da arte, distinguem-se dos outros pela circunstância de não serem de modo algum apropriáveis pelo fascismo. Em compensação, podem ser utilizados para a formulação de exigências revolucionárias na política artística ."
Reprodutibilidade Técnica
A reprodução técnica da obra de arte representa um novo processo, que se desenvolve juntamente da história, através de momentos repentinos separados por longos intervalos. A Xilogravura, na Idade Média, foi a primeira maneira de reproduzir um desenho tecnicamente, e isso foi bem antes da reprodução da palavra escrita. Temos a litografia (permitindo às artes gráficas que seus trabalhos fossem lançados ao mercado em Massa) e logo vemos a imprensa, o grande marco da reprodução técnica da escrita.
Autenticidade
A autenticidade é constituida do aqui e do agora do original, torna-se uma tradição que o identifica como sendo aquele objeto (original), igual e idêntico a si mesmo. Assim, por mais perfeita que a reprodução possa ser, ela está destituida do aqui e agora da obra de arte, de sua existência única.
"A esfera da autenticidade, como um todo, escapa à reprodutibilidade técnica, e naturalmente não apenas à técnica."
A reprodução técnica tem mais autonomia que a reprodução manual, através da seleção de ângulos por uma objetiva por exemplo. Pode fixar imagens e colocar a cópia daquele original em situações impossíveis até mesmo para o próprio original. Além de aproximar a obra do indivíduo: Um coral de uma igreja pode ser colocado em disco, que pode ser tocado na casa de qualquer um.Apesar de tudo, essas cópias desvalorizam-se por não possuirem o aqui e o agora da obra original, mesmo que mantenham o seu conteúdo intacto.
"A autenticidade de uma coisa é a quintessencia de tudo o que foi transmitido pela tradição."
O que se atrofia na era da reprodutibilidade técnica da obra de arte é sua aura, e sua significação vai muito além a esfera da arte. De maneira geral, podemos dizer que a técnica da reprodução destaca do domínio da tradição o objeto reproduzido.
Ou seja, ele deixa de ser algo tradicional uma vez que perde a existência única e torna-se, na verdade, algo serial. Um exemplo disso é o cinema, que liquida o valor tradicional ao produzir series que necessitam de reprodução em massa.
Destruição da aura
No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência.
Vemos a percepção humana mutar-se de acordo com a arte de cada período histórico. Na época Grega tínhamos uma forma de pensar bastante diferente da atual e isso se refletia na arte.
Resumidamente, o que é a aura? ”É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja.”
O declínio da aura vem de duas circunstâncias estreitamente ligadas à crescente difusão e intensidade dos movimentos de massas. Tornar tudo mais próximo é um desejo tão grande como sua tendência a superar o caráter único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade.
Retirar o objeto de seu invólucro, destruir sua aura, é característica de uma forma de percepção cuja capacidade de captar “o semelhante no mundo” é tão aguda, que graças à reprodução ela consegue captá-lo até no fenômeno único.
Ritual e Política
O valor de unidade de determinada obra de arte é equivalente ao seu contexto histórico presente. Um exemplo seria a estátua de Vênus que para os Gregos tornava-se objeto de culto e na Idade Média era malvista. O que se apresentava comum então era a unicidade da obra, ou seja, sua aura.
Logo que a Fotografia surgiu como maneira eficiente de reprodução da arte, esta reagiu com o conceito de Arte pela Arte, o que pode ser chamado de Teologia da Arte, e disso resultou a maneira negativa de se compreender a arte, como a arte pura.
Com a reprodutibilidade técnica, a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história, de sua existência parasitária, destacando-se do ritual. > A obra de arte reproduzida é cada vez mais objeto daquela arte criada já para ser reproduzida.
Nas obras cinematográficas, a reprodutibilidade técnica do produto é uma condição interna para a difusão maciça. A reprodutibilidade técnica do filme tem seu fundamento imediato na técnica de sua produção. Esta não apenas permite a difusão em massa da obra cinematográfica como a torna obrigatória. A difusão se torna obrigatória, por que a produção de um filme é tão cara que um consumidor, que poderia pagar um quadro, não é capaz de pagar um filme. O filme é uma criação da coletividade.
Valor de Culto e Valor de Exposição
O valor de culto e exposição são capazes de reconstituir a história da arte. O primeiro praticamente obriga que as obras de arte sejam secretas, assim como determinadas estátuas divinas seriam acessíveis apenas ao sumo sacerdote.
À medida que as obras de arte se emancipam do seu uso ritual, aumentam as ocasiões para que elas sejam expostas.
Fotografia
Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar diante do valor de exposição.
O valor de culto encontrou bases na saudade que as pessoas sentiam de seus parentes falecidos.
Valor de Eternidade
O molde e a cunhagem são os únicos dois processos técnicos conhecidos pelos gregos, assim, foram obrigados a produzir "valores eternos". Suas esculturas eram parte da arte menos perfectível, afinal, era feita em apenas um bloco maciço. Daí o declínio óbvio da produção de esculturas em nossa era em que tudo é montável.
Fotografia e o Cinema como Arte
Uma grande dúvida do passa era quanto à questão de Fotografia ser ou não considerada uma arte, ao invés disso, esqueceram-se de perguntar se a invenção da fotografia por si só não teria alterado a natureza da arte.
Agora essa discussão é retomada com o Cinema em foco. Para Werfel, o ponto principal que ainda impede o cinema de ser visto como arte está na tendência que os produtores têm de levar para as telas elementos do cotidiano ao invés de apelar para o fantástico.
Cinema e Teste
Existem determinados acontecimentos chamados não-artísticos reproduzidos no filme, como a diferença de representação entre o ator do cinema e teatro. O Ator de cinema não precisa representar para uma platéia e sim para um conjunto de pessoas que pode intervir em suas atuações (produtores, diretores, etc). Assim, se houver erros, o ator pode voltar e regravar a cena. O Ator do cinema tem a necessidade de afirmar sua humanidade diante do aparelho que o registra.
O Intérprete Cinematográfico
O Cinema tem mais interesse que o ator intereprete diante da câmera a si mesmo do que algum personagem.
"os maiores efeitos são alcançados quando os atores representam o menos possível." (pg181)
E, segundo Arnheim, "o estágio final será atingido quando o intérprete for tratado como um acessório cênico, escolhido por suas características... e colocado no lugar certo." Ou seja, como é importante que o ator do cinema seja ele mesmo, quando este for escolhido por determinada característica sua que se assemelhe à do personagem escrito, melhor será o seu trabalho.
Alguma reações, para parecerem mais naturais ainda diante das câmeras podem ser provocadas sem a consciência do ator, como um susto por exemplo. Assim, a arte abandona aquilo que todos acreditaram ser indispensável para a arte: A Bela Aparência.
"O Ator cinematográfico típico só representa a si mesmo."
Exposição perante a massa
As mudanças na exposição através da técnica também refletem na política, assim, a crise democrática pode ser vista como uma crise nas exposições do político profissional.
Exigência de ser filmado
"Cada pessoa hoe em dia pode reivindicar o direito de ser filmado "
Por muito tempo houve o grande abismo entre leitores e escritores, mas com o advento da imprensa essa distância foi drasticamente reduzida, e mais pessoas passaram a escrever, aproximando-se desses escritores. Assim, a diferença essencial entre público e escritor está prestes a desaparecer, a qualquer momento um leitor pode tornar-se um escritor.
Toda forma de arte amadurecida está no ponto de insecção de três linhas evolutivas:
1° - A Técnica atua sobre uma forma determinada de arte
2° - Em estágios atrasados de seu desenvolvimento, a arte tenta exercer algum esforço com bastante dificuldade e este será reproduzido com facilidade por seus sucessores.
3° - Mudanças sociais alteram a maneira com a arte é recebida por seu público consumidor.
Pintor e Cinegrafista
"No estúdio o aparelho impregna tão profundamente o real que o que aparece como realidade "pura", sem o corpo estranho da máquina, é de fato resultado de um procedimento puramente técnico, isto é, a imagem é filmada por uma câmera disposta num ângulo especial e montada com outras da mesma espécie."
A imagem produzida pelo pintor é diferente da do cinegrafista uma vez que o primeiro a faz de maneira total e o segundo de maneira fragmentada, que se compõe segundo leis.
Recepção dos quadros
"A reprodutibilidade técnica da obra de arte modifica a relação da massa com a arte. Retrógrada diante de Picasso, ela se torna progressista diante de Chaplin."
Assim, quanto menos o siginificado social de uma obra, mais distante ela estará do público que a apreciaria ou criticaria. Convencionalmente criticamos o novo, sem desfrutá-lo e desfruta-se do convencional, sem criticá-lo, mas isto não parece valer para o Cinema, neste as reações do publico são condicionadas desde o início.
Camondogo Mickey
Uma das funções sociais mais importantes do cinema é criar um equilíbrio entre o homem e o aparelho.
"O Cinema trouxe uma novidade para a verdade de Heráclito em que o mundo dos homens acordados é o comum e o privado manifesta-se enquanto ele dorme. No cinema vemos a materialização de sonhos coletivos, como o Mickey, que agora deixa de ser privado (era um sonho, uma imaginação) e passa a ser real, parte do nosso mundo comum.
Dadaísmo
O dadaísmo tentou produzir através da pintura (ou da literatura) os efeitos que o público procura hoje no cinema. Os dadaístas tentam retirar o valor contemplativo de suas obras ao desprovê-los de sentidos, aniquilando também a aura de suas criações. Trouxe escândalos, queriam suscitar a indignação pública, eram agressivos ao gosto do espectador.
O cinema é a forma de arte correspondente aos perigos existenciais mais intensos com os quais se confronta o homem contemporâneo.
Recepção Tátil e Recepção Ótica
Diz-se que as massas procuram na arte a distração, uma forma de diversão, e o conhecedor (de arte) busca o recolhimento ou um objeto de devoção.
A Distração e o Recolhimento contrapõe-se da seguinte maneira: Aquele que se recolhe ao observar uma obra de arte acaba por penetrar em seu âmago, compreendendo-a. Já a distração (buscada pelas massas) envolve a arte em seu fluxo.
Edifícios comportam uma dupla forma de recepção, pelo uso e percepção, ou seja, por meios táteis e óticos.
A Recepção através da Distração que se observa crescentemente em todos os domínios da arte e constitui o sintoma de transformações profundas nas estruturas perceptivas, tem no cinema seu cenário privilegiado.
Estética da Guerra
A estética da guerra moderna se apresenta assim: Como a utilização natural das forças produtivas é bloqueada pelas relações de propriedade, a intensificação dos recursos técnicos, dos ritmos e das fontes de energia exige uma utilização antinatural.