3° Período Comunicação Social
Comunicação e Cultura
Texto: HALL, S. "The work of representation". In Representation: cultural representation and signfying practices. Stuart Hall (Ed). Sage, 1997
Representação pode ser entendida como a produção do sentido através da linguagem, já a palavra representa o conceito, podendo ser usada para referenciar ou mesmo designar objetos reais ou imaginários (como anjos). É desta maneira que damos sentido às coisas através da linguagem e é assim que “produzimos sentido” no mundo, permitindo a comunicação de modo que nos entendam. Existem então dois sistemas de representação: O primeiro indica um sistema no qual objetos, pessoas e eventos estão relacionados com um conjunto de conceitos ou representações mentais do indivíduo. Desse modo, o sentido dependerá dos conceitos e imagens formadas no pensamento, os quais servirão para “representar” mundo. O segundo sistema de representação é formado pela linguagem. O termo geralmente usado para as palavras, sons ou imagens que carregam sentido é “signo”. Este representa o conceito e as relações conceituais entre si, sendo estas as que carregamos em nossa mente e constituem o sistema de sentidos de nossa cultura.
Os signos estão organizados em linguagens e é a existência de “linguagens-comuns” que permite que traduzamos nossos conceitos em palavras, sons ou imagens, e então usar estes elementos (os signos) para expressar sentido e comunicarmos com outras pessoas. Os signos visuais são chamados de icônicos, e os escritos ou falados são conhecidos por indexicais. A relação entre os sistemas de representação entre o signo, o conceito e o objeto é inteiramente arbitrário. Já o sentido é fixado por nós, de maneira que após um tempo torna-se natural o seu uso. Este é construído pelo sistema de representação, que estabelece a relação entre o nosso sistema conceitual e linguístico de modo que o código nos oriente com relação à palavra que deve ser usada a fim de representar tal signo.
Os códigos fixam as relações entre conceitos e signos, estabilizando o sentido por entre linguagens e culturas. Dessa maneira podemos pensar melhor sobre o conceito de cultura, envolvendo nossos mapas conceituais, linguagem compartilhada e códigos que ditam as relações de tradução entre eles. Estes mesmos códigos são aqueles que nos permitem falar e ouvir de maneira inteligível. Pensemos então que pertencer a uma mesma cultura significa, de maneira grosseira, compartilhar o mesmo universo conceitual e linguístico. Por fim, o sentido não está intrínseco ao objeto. Ele é construído, produzido. É o resultado de uma prática significante, a qual produz sentido, que faz as coisas significarem.
Para explicar como a representação de sentido através da linguagem funciona, contamos com três teorias: A primeira delas acredita que o sentido está originalmente no objeto, e a linguagem atua como um espelho; ela reflete o verdadeiro sentido como se ele já existisse no mundo. Chama-se teoria reflexiva ou, como também é conhecida, teoria “mimética”. A segunda teoria vai ao ponto contrário, afirmando que é o autor quem impõe seu significado no mundo através da linguagem. É conhecida como Teoria intencional. Mas sua maior falha está no fato de que não somos a única fonte de sentidos na linguagem, caso contrário, poderíamos expressar-nos em linguagens privadas, únicas. A terceira teoria, porem, reconhece o caráter público da linguagem. Não é nem o autor, nem o objeto em si que fixa o sentido na linguagem, mas nós mesmos que construímos o significado usando sistemas de representação: Os conceitos e os signos. Chama-se teoria construtivista. Acredita também que todos os ginos são arbitrários no sentido de que não há relacionamento natural entre o signo e seu significado ou conceito. Com isto fica óbvio que o signo, por si só, não pode fixar sentido. Este dependerá da relação entre um signo e um conceito, o qual é fixado por um código.
O linguista suíço Ferdinand Saussure contribuiu fortemente para a formação da visão construtivista da linguagem. Buscou analisar o signo como se composto por dois elementos: o significado (O conceito formado em sua mente) e o Significante ( a forma, a palavra, imagem, etc...). É a relação entre esses dois conceitos que sustentam a representação. Mas não devemos nos esquecer de que estes existem apenas como componentes do signo e não possuem sentido fixo. Para Saussure, a diferença existente na linguagem é fundamental para haver a produção do sentido – que está em constante mudança, demandando de um processo de interpretação para que possamos conhecê-lo. Há então, a possibilidade de interpretá-lo de maneira diferente da pretendida pelo emissor. Saussure dividiu ainda a língua em duas partes: Langue (sistema da língua) e Parole (o discurso). A primeira ficou conhecida como a parte social e a segunda acabou sendo posta como a “superfície” da linguagem. Por essa dedicação ao estudo profundo da estrutura da linguagem que Saussure e seus modelos ficaram conhecidos como estruturalistas. Mas até suas teorias receberam críticas, como sua pouca atenção à relação entre significado e significante no que diz respeito à sua utilidade para a dita “referência”. Já o que ele chamou de significação, envolvia sentido e referência, mas acabou por focar primariamente no sentido. Uma última crítica está no fato de haver se concentrado em demasia nos aspectos formais da linguagem, olvidando-se de seus lados interativos e dialógicos, não trazendo questões como o poder na linguagem.
O sociólogo Roland Barthes trouxe consigo dois conceitos para o processo de significação: Denotação (percepção mais simples) e a Conotação (Associação mais subjetiva, abstrata, localização do que chamava de Mitologias.). Argumenta que a representação se manifesta a partir do significado e significante que se unem a fim de formar um signo com uma mensagem denotativa simples. Logo então essa mensagem é conectada a um segundo conjunto de significados, formando um nível avançado de significação, o nível do mito.
Enquanto isso, Foucault utiliza a palavra “representação” de maneira menos ampla. Preocupa-se mais com a produção de conhecimento do que de sentido, isto através do que ele chama de discurso. Este será visto como um sistema de representação, uma maneira de produzir conhecimento através da linguagem, lembrando-nos que toda prática social é dotada de um discurso. Nada significante existe fora do discurso. Porém, quando eventos discursivos referem-se ao mesmo objeto, dividem o mesmo estilo, eles são ditos como pertencentes à mesma formação discursiva. Foucault, em seus próximos trabalhos, dedica-se ao estudo da relação entre sabedoria e poder e como eles operam no que ele chama de aparatos (estratégias de relação de forças apoiadas e apoiantes de tipos de conhecimento) e suas tecnologias. Na relação poder/conhecimento, afirmou como o segundo, conectado ao primeiro, assume não apenas a autoridade da verdade como tem o poder de fazer-se verdadeiro. O Conhecimento faz trabalhar através de certas tecnologias e estratégias de aplicação, contextos históricos e regimes institucionais. Surge também o regime da verdade, no qual a verdade é produzida somente através de múltiplas formas de restrição. Cada sociedade terá seu próprio regime da Verdade, formado pelos discursos que foram aceitos como verdadeiros. O discurso em si produz sujeitos e lugares para eles, e estes possuem atributos já esperados que foram definidos previamente. Todo discurso então, constrói posições e sujeitos, a partir do qual farão sentido.
O Italiano Antonio Gramsci, influenciado por Marx, formou o conceito de Hegemonia. Traduziu-o como uma luta em busca do consenso e da ascensão sobre outro grupo, tanto em pensamento quanto prática. Em termos mais políticos, Gramsci busca uma dominação ideológica, tendo o exemplo da influência da classe burguesa sobre os proletariados.